Seguindo a tendência global de muitos hospitais do início do século XX, o Hospital São Paulo de Muriaé, fundado em 1927, foi localizado na periferia da cidade, num terreno com uma grande área de floresta nativa. O edifício primitivo e seus anexos mais recentes ocupam uma pequena parte dessa área de floresta, que ainda em posse da instituição continua preservada, e que hoje é a maior área verde dentro do território urbano da cidade. Num dos extremos do terreno, no entanto, existe uma área que foi desmatada há décadas. Nesta parte do terreno a instituição pretende, nos próximos anos, fazer uma grande ampliação da sede, hoje saturada devido ao rápido e intenso crescimento da cidade.
O primeiro edifício que iniciaria essa expansão devia servir de base para futuras ampliações em andares superiores, assim como permitir que outras edificações, ainda sem previsão de data e tamanho, pudessem ocupar o resto da clareira. Para isso, a instituição pretendia fazer vários platôs com uma grande movimentação de terras para acomodar os futuros edifícios, ainda que apenas um fosse construído neste momento, e o resto absolutamente imprevisto. Em lugar disso, que poderia deixar por muitos anos como um canteiro de obras inacabadas essa região, nossa proposta consistiu em fazer o primeiro edifício numa parte do terreno que já era horizontal e que não demandaria movimento de terras, e deixar o resto do terreno como ele se encontra atualmente, com vegetação espontânea e algumas árvores. Aproveitando a proximidade da mata, e a existência de quadras de esporte que a vizinhança improvisou informalmente para aproveitar o terreno baldio durante anos, pretendíamos transformar a área não construída num pequeno parque, mantendo o que já existia, apenas acondicionando melhor as áreas de acesso, de circulação e estar, que também seriam usadas para a ampliação do hospital, integrando o edifício ao cotidiano da cidade. Ou seja, aproveitar a privilegiada condição de proximidade a uma grande área verde tal como na origem da instituição, porém buscando afastar o estigma que os hospitais carregam desde aquela época, o que motivava, em parte, que ficassem fora das cidades.
O edifício que projetamos foi implantado na lateral em que a cidade se encontra mais consolidada, com alguns edifícios já habitados do outro lado da rua, onde fizemos um pequeno afastamento arborizado. A implantação permite que a praça de acesso fique aberta à esquina do lote, um cruzamento movimentado do bairro desde onde se pode acessar em nível a uma praça central, que foi criada junto ao edifício. Essa praça poderá servir em futuras ampliações para dar acesso a outros edifícios, que poderão ser construídos no lugar onde se encontram as quadras de esporte.
No edifício deveriam ser acomodados novos consultórios e salas de exames, ou seja, um ambulatório. Como em todo ambulatório (ambular = passear), pensamos que os percursos seriam tanto ou mais relevantes até que os ambientes para os usos específicos do edifício, já que é em corredores e esperas que os pacientes passarão a imensa maioria do tempo no edifício. Desta forma, a rede de percursos e salas de espera do prédio se entrelaçam com o entorno de áreas verdes do parque que criamos, mas ocupando o mínimo de metros quadrados possíveis, já que a verba destinada à construção era extremamente limitada para a demanda de área de atendimento. Por isso, o edifício resulta de uma mistura entre o tipo de hospital com pátio central, que privilegia o percurso e o contato com o exterior, com tipo de hospital de corredor central, extremamente econômico e flexível frente às contínuas mudanças que caracterizam estes edifícios. Pequenas salas de espera mais acolhedoras e com generosas varandas, debruçadas completamente ao exterior como mirantes, atravessam o edifício e evitam um corredor central monótono e escuro, ao tempo que substituem as grandes áreas de espera impessoais convencionais. A modulação da estrutura, com os pilares da fachada fora do edifício, caracteriza o aspecto exterior e permite maior flexibilidade dos espaços internos, assim como a instalação de elementos de proteção solar exteriores que minimizam a insolação nas grandes janelas do interior.