A clínica de quimioterapia foi uma iniciativa de duas instituições, o Hospital São Vicente de Paulo, que cedeu um terreno frente a sua sede, e a Fundação Cristiano Varella, que com esta clínica ampliaria o atendimento oncológico que o consolidou como referência na região.
O terreno está localizado no cruzamento de duas ruas que seguem a quadrícula não muito precisa que caracteriza muitas cidades brasileiras que, como Ubá, surgem da herança colonial. O novo edifício, que pela demanda de área devia ocupar praticamente a totalidade do terreno, resultaria ordenado a partir dessa mesma quadrícula histórica, que nasce junto com a Matriz de São Januário, desde a fundação a cidade. Outros edifícios históricos da cidade fazem parte também dessa quadrícula, como a Igreja do Rosário ou a antiga estação de trem, que fazia com que até o traçado sinuoso da ferrovia também precisasse ficar alinhado à quadrícula fundadora ao chegar à estação. Esse traçado sinuoso da ferrovia, que até hoje está presente em algumas ruas da cidade, é consequência do desenho natural da geografia montanhosa da região. É o caso também dos córregos que cortam a cidade, ainda presentes em algumas ruas de Ubá, como o córrego que ainda atravessava o terreno, que sabíamos que estava em processo de canalização no subsolo.
A nova clínica de quimioterapia surge destes dois desenhos existentes no terreno, de um lado a quadrícula histórica da cidade, e do outro o curso do córrego natural. Desta forma, criamos uma série de pilares organizados geometricamente a partir da quadrícula, cortados por um espelho d’água que ocupa o mesmo percurso do córrego. Associado ao traçado natural do córrego, agora espelho d’água, foi criado um jardim central ao qual se abrem os dois principais espaços do paciente, tanto a espera como a sala de tratamento, que ficam a ambos lados da água. Assim, a passagem do estar ao tratamento se faz por meio do gesto de andar sobre a água.
Todas as áreas de serviço ou complementares foram localizadas em duas faixas laterais mais opacas, que custodiam o espaço interno da clínica e reforçam a centralidade do jardim. Junto ao balcão da recepção, um jardim aberto à rua poderá servir no futuro como espaço para escada e elevador numa possível ampliação de andares.
O fechamento da fachada e algumas áreas internas foi projetado em tijolo de vidro, deixando passar a luz e entrever o jardim central, separando a rua do interior, assim como a sala de espera da sala de tratamento, garantindo a privacidade de cada ambiente sem perder o contato com o exterior. Desde a rua ainda é possível ver o espelho d’água adentrando no jardim da clínica, memória do córrego que, como tantos outros, desaparecerá da paisagem urbana.