Boa parte do apartamento se encontrava em boas condições. Não era o caso dos banheiros, da área de serviço e da cozinha, objeto da reforma. Demolimos muitas paredes que já precisavam ser modificadas por causa da troca de instalações elétricas e hidráulicas, que era necessária, e construímos apenas uma, modificando completamente o núcleo de áreas molhadas que ocupava o centro do apartamento. Com isso, ainda que compacta, a intervenção reformulou os espaços principais do apartamento, criando novos percursos e possibilidades de uso.
A modificação mais relevante consistiu em eliminar um dos banheiros e ampliar o antigo banheiro de serviço, sem que isso impedisse preservar a ventilação e iluminação do banheiro mantido, que acontece agora por cima do novo chuveiro, que ficou com uma espécie de claraboia de vidro no seu teto, por onde entra luz. Com essas alterações de layout nos banheiros foi possível aumentar a área da cozinha, ampliada ainda mais com a integração à sala. O novo banheiro foi recuado da fachada, criando um corredor que permite abrir uma grande janela ao longo de toda a bancada, e conectar a suíte aos fundos da cozinha, onde criamos um novo espaço com ar de varanda.
Neste espaço “avarandado” criamos um revestimento em meia altura. Esse revestimento foi feito a partir de materiais artesanais de tradições diferentes: ladrilho hidráulico, de origem ocidental, europeia, e pequenas peças de cerâmica esmaltada produzidas em fornos Noborigama, de origem oriental, japonesa, ambos produzidos no Brasil em cidades próximas que trouxeram essas técnicas e ainda as preservam. Uma lembrança dos saguões e pátios hispânicos, também áreas externas de circulação e onde técnicas tradicionais de procedência remota se cruzaram por séculos.
Neste espaço há também plantas e um lava-pés com ar de fonte pública, útil para um apartamento de férias próximo da praia, que os moradores tanto frequentam. O hábito de passar o tempo cozinhando também levou a projetar um fogão protagonista, centro da cozinha, e que permite que várias pessoas cozinhem nele simultaneamente. Do fogão nasce a mesa, feita com taco de madeira retirado da antiga dependência de serviço, subvertendo seu uso original: o piso de quem servia é agora a mesa de quem era servido, reflexo de uma sociedade de hábitos muito diferentes da do apartamento original, de uma época não tão remota.
Os novos materiais acrescentados ao apartamento, como a madeira maciça de tauari, os granitos e o ladrilho hidráulico colorido, complementam os materiais e elementos existentes que foram mantidos, como canos aparentes, os pilares e vigas de concreto sem emboço, o piso de taco restaurado, ou as molduras de gesso do teto que nos lembram da idade do apartamento.