O lote estreito e profundo com grandes empenas laterais, a pequena rua com janelas a poucos metros da frente do lote, e um entorno densificado de construções nos levou a pensar numa casa-pátio. Como em toda casa-pátio, as relações entre o interior e o exterior foram um assunto fundamental.

Como em toda casa-pátio, foi criado um espaço no interior do terreno ao ar livre, o pátio, que ficou protegido do entorno pela própria casa. Desde a rua, o interior da casa fica protegido por uma parede rústica de pedra, que como em tantos edifícios históricos, principalmente no Brasil, é um revestimento que costuma representar um embasamento. Este embasamento, ao contrário, foi suspendido, protegendo os cômodos mais íntimos que estão no andar superior, e deixando o térreo menos opaco. No térreo, na fachada, onde ficam as portas de acesso, pequenas fitas de chapa trançada remetem a um trabalho de cestaria, deixando entrever a luz que vem do pátio, deixando o ar correr, e servindo de grade.

Essa fachada com embasamento invertido foi replicada novamente no interior da casa, do outro lado do pátio, com o mesmo propósito. Entretanto, na faixa central da casa, onde fica a sala, a estratégia foi diferente. Na sala, que já fica protegida pela faixa frontal e posterior da casa, assim como pelas empenas dos vizinhos, o fechamento é apenas de vidro nos dois andares, criando um espaço transparente que, em contraste com as duas paredes pesadas e opacas de pedra, se integra ao pátio central e ao jardim da empena lateral. As portas de correr da sala tornam o conjunto de jardins e a própria sala um grande pátio, um lugar que concentra todos os percursos da casa e as principais áreas de estar e de convívio, uma grande área externa de uso cotidiano que pode ser aproveitada em qualquer condição climática.

No andar superior a maioria dos ambientes estão voltados para o pátio, mas também aproveitam as possiblidades que casa em ladeira oferece, com vistas livres ao horizonte da cidade, assim como a proximidade com uma rua pequena e tranquila. As janelas do andar superior, quase seteiras, dão às paredes de pedra um tom de muralha, ao tempo que permitem uma exposição ao exterior mais intensa do que janelas de peitoril convencional. As duas suítes e a sala com sofá-cama do andar superior têm varandas que se abrem ao exterior, mas o acesso às mesmas é sempre recuado e resguardado, permitindo que esses ambientes fiquem continuamente abertos às mesmas sem perder privacidade no interior. Neste jogo de espaços internos/externos se encontram também o saguão de entrada e o escritório, ambos voltados para o jardim da empena, que se estende ao longo dela toda, desde a fachada até a escada.

Aproveitando o desnível da rua, na parte direita da fachada foi criado um acesso independente que leva a um subsolo, onde ficou a adega de cachaça que os moradores tinham solicitado. Nesta adega, como muitas outras com uma atmosfera de pouca luz natural vinda do alto, temperatura fresca constante –que também favorece a conservação da cachaça– e cheiro caraterístico de lugar semienterrado, serão servidas degustações da bebida, que o proprietário produz artesanalmente.

Projeto de arquitetura:

Fernando Delgado, Isabela Canêdo, Renan Vargas

Localização:

Rua Dr. Evaristo de Carvalho, Muriaé-MG, Brasil

Data início:

2022

Área construída:

321m²

Fase:

Projeto em andamento

Estrutura:

Regis Miranda

Desenhos